O Tubarão Bala ou Prateado, cientificamente chamado Balantiocheilus
melanopterus, é um dos peixes mais apreciados no mundo do aquarismo.
Originário do sudoeste asiático, a espécie começou a chegar na Europa
nos anos 50. Hoje em dia, está presente em vários aquários do mundo.
Muitos criadores sentem grande afeição pelos “tubarões bala”, que
terminaram por se tornar uma das opções mais importantes no comércio
internacional de peixes ornamentais.
Ciprinídeo
de médio porte, precisa de muito espaço para nadar, chegando a atingir
cerca de 35 cm em um grande tanque. Já em aquários caseiros, de pequeno
volume, os Balas não crescerão tanto, atingindo no máximo 15 cm.
Preferem viver em cardumes, e há relatos de que possuem vida longa, de
10 a 15 anos.
Um aspecto difundido sobre a espécie tem
desapontado muitos aquaristas: “ o Tubarão Prateado não se reproduz em
cativeiro”. Esse “decreto” contraria muita gente, ainda mais quando não
se fornece uma explicação clara para a questão. Assim, sempre que alguém
desejar substituir um Bala Shark que morreu em casa, seja por doenças,
má qualidade da água, ou porque saltou fora do tanque, é preciso ir à
loja e comprar outro exemplar, já que não há uma produção própria para
substituir a perda.
Os atlas e guias de peixes de aquário são
muito reservados acerca da procriação do Tubarão Bala, e a Internet
também não é muito esclarecedora a esse respeito. O Guia do Aquário, de
Brian Ward, edição em português (Estampa), resume-se a dizer que “Ainda
não procria em cativeiro, e o sexo é difícil de determinar” (p.73). Em
diversos sítios da Internet, lemos que os Bala Sharks são ciprinídeos
que espalham ovos, sem qualquer cuidado posterior com a cria, mas quanto
à sua reprodução: “é desconhecida até agora”, “não é possível em
cativeiro”, “não ocorre em aquário”, que “não há relatos de procriação
bem sucedida em cativeiro”, “seus hábitos reprodutivos não têm sido
documentados” ou ainda que “raramente procria em cativeiro”. Ora, o que é
raro não é impossível, mas infelizmente não são fornecidas notícias
detalhadas sobre a questão. Outro sítio em inglês lança uma pista: “não
se sabe de sua desova em aquários, mas tem sido procriado comercialmente
em lagos de terra no sudoeste asiático”. O sítio Mongabay, que trata,
também em inglês, de várias espécies de peixes de aquário, esclarece que
nas fazendas de piscicultura na Ásia se utilizam hormônios para
provocar a desova dos Bala Sharks em cativeiro.
O americano John
Robertson, muito interessado na procriação de Bala Sharks, relatou na
Internet suas duas tentativas de provocar a desova dessa espécie em seu
aquário caseiro de 150 cm de comprimento, entre 1999 e 2000. Esse artigo
foi editado online em novembro de 2002: ele tinha quatro tubarões bala
com mais de 25 cm cada, e vinha notando comportamentos estranhos,
sobretudo de um par. Por intuição, definiu qual dos indivíduos era o
macho e qual era a fêmea (o macho, mais esguio e agitado, agressivo; a
fêmea, mais cheia e calma). Assim, ele pensou em estimular a desova dos
seus peixes através da simulação, no aquário, do clima de Monções,
fenômeno tipicamente asiático, quando as chuvas torrenciais inundam os
campos: para isso, começou baixando o nível da água, depois subiu a
temperatura e diminuiu a quantidade de alimento, indicando a época de
seca na região asiática.
Após
alguns dias nesse sistema, que continuava com filtração e trocas
parciais, ele simulou a época das enchentes e das chuvas, elevando o
nível d´água, baixando a temperatura e aumentando a alimentação dos
peixes. Colocou pedras e plantas no fundo e observou o comportamento do
“casal”: segundo ele, o par apresentou uma postura típica de reprodução,
com perseguições, enroscamento de corpos, danças coladas, etc, mas não
houve desova. Veremos depois as possíveis falhas e limitações dessa
experiência de Robertson.
Segundo uma lenda, os Bala Sharks e
outros peixes importados da Ásia sofreriam um processo de esterilização
antes de deixarem seus países de origem. Tal notícia não possui base
científica, além do que muitas espécies que nos chegam de lá reproduzem
naturalmente.
Minha experiência com Bala Sharks já tem três
anos, quando comecei a criar cinco exemplares que comprei bem pequenos e
hoje alcançaram mais de 20 cm cada. Vivem em um tanque de jardim, muito
bem ambientado, juntamente com Barbos Tinfoil, Chalceus, Tetras, entre
outros. Confesso que nunca desejei provocar a reprodução dessa espécie,
apesar de ser ela bem vinda, caso venha a ocorrer. Mas já presenciei em
meus tubarões muitas das atitudes descritas por Robertson em seu artigo.
É importante notar que não há interesse dos criadores asiáticos
em divulgar qualquer dado sobre a reprodução dessa espécie, seja em
cativeiro, seja em seu habitat natural. O lucro comercial desse peixe é
tão elevado que não seria vantajoso divulgar dados a respeito de sua
procriação. Por sua extração desmedida da natureza e pela destruição
ambiental em certas regiões da Ásia, a espécie corre o risco de ser
extinta do habitat natural, limitando sua presença apenas a aquários e
criatórios comerciais.
A reprodução desse peixe em cativeiro,
importante para a propagação da espécie, deve seguir as regras normais
para qualquer peixe: condições muito próximas do natural que propiciem o
amadurecimento sexual dos indivíduos para que se sintam estimulados ao
processo reprodutivo. O Bala Shark, segundo dizem os especialistas,
alcança a maturidade sexual quando atinge entre 15 e 17 cm de
comprimento. É um ciprinídeo muito veloz, e muito provavelmente realiza
migrações na época de se reproduzir, indo no sentido contrário das
fortes correntezas dos rios, espalhando seus ovos próximos às nascentes,
conforme fazem os nossos cruzeiros do sul, matrinchãs, jaraquis,
dourados, entre outros, sobretudo no período das chuvas. Os alevinos se
recolhem em locais mais calmos, como baías, enseadas ou lagos cujas
águas se juntaram com as dos rios nas enchentes e depois de recuar, se
isolaram. É assim que se explicaria a existência desses peixes em lagos
de Sumatra e Bornéo, grandes ilhas que ainda apresentam a espécie em
estado natural. Mas é difícil aceitar que eles procriem em águas
paradas. Nas enchentes do ano seguinte, esses peixes represados voltam
ao curso normal do rio e os maiores iniciam a migração para reproduzir.
Essa é uma limitação que Robertson não pôde ultrapassar: como simular
uma correnteza turbulenta e a migração em um aquário de 1,5m? Alguns
peixes nadam centenas de quilômetros até a cabeceira dos rios, e esse
caminho é essencial para a maturação hormonal das espécies. Outra
questão: esse peixe desova sobre pedras, areia, ou entre plantas? Quais
espécies de plantas? E de que se alimentam durante a desova? Qual a
melhor água para desovar? São questões difíceis de responder. Um peixe
de piracema precisa migrar até a nascente dos rios para procriar. Se ele
viver confinado por muito tempo em águas paradas, como em aquários ou
tanques, por exemplo, dificilmente irá desenvolver seu sistema endócrino
satisfatoriamente, não chegando a gerar o amadurecimento dos óvulos,
nas fêmeas, nem o desenvolvimento dos testículos, nos machos,
impossibilitando a fecundação e a eclosão de ovos. É por isso que não há
casos de reprodução de Bala Sharks em aquários ou tanques.
Tenho
certa desconfiança de que uma correnteza forte com muita espuma possa
estimular a desova dessa espécie, e que o melhor substrato, nesse caso,
deva ser de pedras e areia, em águas não muito profundas, até um metro. É
isso o que muitas espécies brasileiras procuram na época das migrações
de desova, inclusive realizando saltos contra a correnteza. É notável o
formato dinâmico dos Balas: sua velocidade e capacidade de saltar devem
ter algum sentido na natureza. Dificilmente um aquário satisfará tais
condições. Acredito, no entanto, que se possa reproduzir Tubarões Bala
artificialmente sem uso de hormônios, bastando simular uma ambientação
próxima do natural, em um tanque bem longo, na forma de canal, pouco
profundo, com correnteza forte, trechos espumantes, como em um riacho,
com água circulante desaguando em um espaço mais profundo e amplo, com
pedras no fundo, plantas, boa alimentação, época de chuvas, etc. Isso é
muito custoso e difícil para um criador caseiro. Quanto a mim, não
alimento esperanças de procriar Bala Sharks; prefiro admirar a beleza do
seu nado elegante e agitado, em que resplandece seu típico prateado.
Finalizando,
a alimentação desses peixes deverá ser a mais variada possível, aceitam
bem rações em flocos, mas alimentos vivos como artêmia, tubifex etc não
devem faltar.
. O aquarismo responsável é baseado na busca, aprendizado, desenvolvimento e promoção da consciência a respeito destas condições e procedimentos, tal que a nossa prática amadora ou profissional do hobby não ocorra às custas do bem estar dos nossos animais de estimação, nem em detrimento do ecosistema. Assim como os bebês chorões são repentinamente atraídos pelos movimentos e sons curiosos de chocalhos coloridos, somos seduzidos pelos movimentos e cores de um aquário
Peixes ornamentais são excelentes para quem deseja animal de estimação e não dispõe de muito espaço
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